Portugal deve inspirar-se na “Escola de Sagres”

 

Ao fim de cinco edições, as Jornadas Empresariais AEP/Serralves são já um dos maiores eventos de reflexão e debate sobre a atualidade económica que anualmente se realizam no Porto. Este ano, foi questionado o papel de Portugal no mundo e houve quem visse na História um sinal de alento.




V Jornadas Empresariais

A afirmação de Portugal na economia global passa pela conjugação virtuosa de cinco fatores: atitude, rumo estratégico, estímulo ao investimento privado, formação do capital humano e geração de conhecimento.

Em poucas palavras, foi esta a principal pista de trabalho que deixou aos mais de 200 participantes as V Jornadas Empresariais AEP/Serralves, que a 23 de outubro decorreram no auditório da Fundação de Serralves, no Porto, e em que mais de uma vintena de decisores empresariais e académicos se fizeram ouvir sobre “Portugal no mundo”.

Nada que, noutros fóruns, não tivesse sido já apontado por diferentes agentes políticos. Só que, desta vez, foram qualificados representantes da sociedade civil portuguesa a dizê-lo. E com uma ênfase quase unânime: o país tem de aproveitar com critério a nova vaga de fundos europeus para acrescentar centralidade económica à sua posição geoestratégica e continuar a investir em conhecimento, inovação e investigação e desenvolvimento. Só assim conseguirá voltar a crescer, criar emprego e reter a geração mais bem preparada que formou. Na palestra de encerramento, Artur Santos Silva apontou uma saída: “No séc. XXI, o nosso caminho para a Índia tem de ser feito de mãos dadas pela Ciência e pelas empresas, como aconteceu nas Descobertas, com a Escola de Sagres”.

Porém, anotou, Portugal tem ainda muito a fazer para “recuperar a credibilidade”, tarefa que passa pelos decisores políticos (“convergência” e “cooperação” foram os propósitos que enunciou), mas também pelos cidadãos. ”Não podemos recusar o nosso contributo individual se formos mobilizados coletivamente pela verdade e esperança” , afirmou o chairman do Banco BPI e presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, que preconiza uma “estratégia de longo prazo” para o país, propícia ao relançamento do investimento privado, às exportações e às atividades de I&D “para as empresas ou nas empresas”. Mas também à produção cultural, à afirmação das indústrias criativas e à valorização dos nossos recursos naturais.

• HISTÓRIA É ARGUMENTO FAVORÁVEL A PORTUGAL


Sem iludir os principais focos de tensão de um mundo “marcado pelas ideologias”, de confiança no país e nos portugueses foi também a comunicação de Jaime Nogueira Pinto na palestra de abertura da quinta edição deste encontro empresarial anualmente organizado pelas fundações AEP e de Serralves. Para aquele professor universitário e escritor, Portugal pode enfrentar com êxito os desafios da globalização económica e das “incertezas políticas” se se voltar a afirmar como “nação antiga, com grande capacidade de viver e sobreviver”.

Somos um povo que sabe “valorizar as suas fronteiras e defender a independência nacional”, destacou. E essas características “históricas e civilizacionais” podem-nos ser úteis num “mundo de geometria variável”, em que a demografia, as fronteiras, a energia e a alimentação são causas de preocupantes conflitos.

No fundo, é ter presente o “exemplo do Infante D. Henrique” no primeiro movimento de globalização, sublinhou Nogueira Pinto, numa evocação partilhada, mais tarde, por Artur Santos Silva.

Na sessão de abertura, Paulo Nunes de Almeida, presidente da Fundação AEP, salientou o facto de “Portugal não poder desaproveitar os seus recursos endógenos nem as oportunidades com que está desafiado à escala europeia”. Nesse sentido, a nova geração de fundos comunitários deve servir para Portugal se tornar “mais central na Europa” e fazer os investimentos em transportes e logística que “promovam o crescimento da economia e as exportações de bens transacionáveis”.

Por seu lado, Ana Maria Pinho Macedo Silva, administradora da Fundação de Serralves, referiu o papel dos agentes culturais na “projeção de Portugal no mundo”, realçando o caso da instituição a que está ligada. Ao longo dos seus 25 anos de existência, disse, Serralves tem contribuído para a “afirmação e valorização” do Porto e do país, mercê de uma programação que tem combinado o melhor da produção artística nacional com o trabalho de grandes artistas estrangeiros.


• CONJUGAR GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS COM INVESTIMENTO PRIVADO


Para além da situação de Portugal num mundo de incertezas, nas jornadas foram abordadas cinco questões determinantes para a afirmação de Portugal na era da globalização: as ligações ao exterior, o investimento estrangeiro no país, a atividade e o investimento português além-fronteiras, o papel e a organização do nosso comércio externo e o contributo das universidades para a projeção de Portugal no mundo.

Seguidas com particular interesse pela assistência foram as intervenções dos empresários e gestores convidados para se pronunciar sobre a internacionalização económica do país. Pelo que disseram Miguel Lisboa (Takargo), Fernando Vieira (ANA/grupo Vinci), Mira Amaral (Banco BIC), Jónio Reis (Bosch Portugal), João Taborda (Embraer), Marta Maia (Jerónimo Martins) e Bernardo Brito e Faro (Sogrape), por exemplo, Portugal convive tanto com ameaças como com oportunidades na sua relação com o mundo. Mas há saídas, como evidenciaram, nas suas comunicações, o investigador Cláudio Sunkel, do IBMC – Instituto de Biologia Molecular, o administrador da AICEP Vital Morgado ou o embaixador Francisco Seixas da Costa.

Para tanto, o nosso país tem de saber conjugar a gestão das finanças públicas com o apoio ao investimento das empresas, o aproveitamento do potencial instalado nos centros de saber e conhecimento e, sobretudo, criando condições para que a geração mais bem preparada de sempre encontre, hoje e aqui, motivos suficientemente fortes para se reencontrar com o país e lhe proporcionar o retorno do investimento realizado na sua formação.

A iniciativa é uma das muitas ações do projeto Apreender, contributo da Fundação AEP para o fomento do empreendedorismo, contando com cofinanciamento do Compete, ao abrigo do QREN. A KPMG foi o patrocinador exclusivo.